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Eu costumo afirmar: a burrice é incurável. Quando uma pessoa é burra, ela não muda, será sempre burra. Pode até se esforçar para adquirir um pouco mais de inteligência, estudar, ler dezenas de bons livros, comer peixes, a fim de nutrir o cérebro com fósforo. Tarefas estéreis, inúteis. Burro é burro, como o sapo é um batráquio e o macaco um símio. A burrice só será eliminada se um dia houver transplantes de cérebros.

Prefiro um canalha inteligente do que um burro chapado, se eu tiver de optar, antes de fechar um negócio, pois o burro, de forma quase invariável, nos prejudica, e o canalha inteligente, por ser inteligente, pode agir de maneira correta, durante algum tempo.

Já encontrei, ao longo da minha vida, diversos tipos de burros: o burro orgulhoso, o burro mau, o burro doutor, o burro rico, o burro bonito, o burro elegante, o burro recalcado, o burro deputado, o burro prefeito, o burro bundudo, o burro corno, etc.

Outro dia eu vi um desses burros andando pela Avenida Paulista. Deteve-se, zurrou, isto é, cumprimentou-me, e as suas palavras idiotas soaram nos meus ouvidos como os relinchos de um muar faminto. Senti a imperiosa vontade de colocar, no seu focinho comprido, um capim bem verde, vem viçoso, e de lhe dizer:

-Jumentos como você, caminhando pelas calçadas, contrariam as posturas municipais. Recolha o seu rabo e vá logo, na rua, puxar uma carroça.

Mas o burro não tem culpa de ser burro, como o gambá de ter fedor. A propósito disso, evoco aqui o caso do jornalista que após escrever um texto cretino contra o polígrafo Nestor Vítor, assim se desculpou na frente dele:

-Você sabe, Nestor, eu não fiz por mal…

O polígrafo respondeu:

-Eu sei, você não fez por mal, você fez porque é burro.

Amigo leitor, não se irrite, se receber os coices de um jerico da raça humana, pois é da sua natureza aplicar patadas, do mesmo modo que é da natureza da doninha catinguenta levantar a cauda e as patas traseiras ao se ver ameaçada, e esguichar um líquido de cheiro insuportável.

Uma atriz lindíssima, porém curta de inteligência, soltou estas palavras diante de Sophie Arnould (1744-1802), célebre e espirituosa cantora de Ópera:

-Os meus admiradores não me dão sossego. É um verdadeiro exército a me perseguir!

Sophie Arnould aconselhou-a:

-Ora, é muito fácil você derrotar esse exército. Basta abrir a boca e falar.

Inúmeras pessoas são como essa atriz, pois a burrice as leva a defecar asneiras em jorro contínuo, a bostejar pela boca, e a feiúra das suas pobrezas de inteligência forma um estarrecedor contraste com a beleza dos seus rostos.

Devemos aceitar a burrice e até gostar dos burros, dar valor a eles. Como poderíamos saber o que é a inteligência, se a burrice não existisse? Nunca se deve revoltar contra ela, nunca! Estava certo o poeta e dramaturgo alemão Johann Christoph Friedrich Schiller (1759-1805), por ter colocado a seguinte frase no ato III da sua peça Die Jungfrau von Orleans (“A donzela de Orleans”):

“Os próprios deuses lutam em vão com a burrice.”

(“Mit der Dummheit kämpfen Götter selbst vergebens”).

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Eu costumo afirmar: a burrice é incurável. Quando uma pessoa é burra, ela não muda, será sempre burra. Pode até se esforçar para adquirir um pouco mais de inteligência, estudar, ler dezenas de bons livros, comer peixes, a fim de nutrir o cérebro com fósforo. Tarefas estéreis, inúteis. Burro é burro, como o sapo é um batráquio e o macaco um símio. A burrice só será eliminada se um dia houver transplantes de cérebros.

Prefiro um canalha inteligente do que um burro chapado, se eu tiver de optar, antes de fechar um negócio, pois o burro, de forma quase invariável, nos prejudica, e o canalha inteligente, por ser inteligente, pode agir de maneira correta, durante algum tempo.

Já encontrei, ao longo da minha vida, diversos tipos de burros: o burro orgulhoso, o burro mau, o burro doutor, o burro rico, o burro bonito, o burro elegante, o burro recalcado, o burro deputado, o burro prefeito, o burro bundudo, o burro corno, etc.

Outro dia eu vi um desses burros andando pela Avenida Paulista. Deteve-se, zurrou, isto é, cumprimentou-me, e as suas palavras idiotas soaram nos meus ouvidos como os relinchos de um muar faminto. Senti a imperiosa vontade de colocar, no seu focinho comprido, um capim bem verde, vem viçoso, e de lhe dizer:

-Jumentos como você, caminhando pelas calçadas, contrariam as posturas municipais. Recolha o seu rabo e vá logo, na rua, puxar uma carroça.

Mas o burro não tem culpa de ser burro, como o gambá de ter fedor. A propósito disso, evoco aqui o caso do jornalista que após escrever um texto cretino contra o polígrafo Nestor Vítor, assim se desculpou na frente dele:

-Você sabe, Nestor, eu não fiz por mal…

O polígrafo respondeu:

-Eu sei, você não fez por mal, você fez porque é burro.

Amigo leitor, não se irrite, se receber os coices de um jerico da raça humana, pois é da sua natureza aplicar patadas, do mesmo modo que é da natureza da doninha catinguenta levantar a cauda e as patas traseiras ao se ver ameaçada, e esguichar um líquido de cheiro insuportável.

Uma atriz lindíssima, porém curta de inteligência, soltou estas palavras diante de Sophie Arnould (1744-1802), célebre e espirituosa cantora de Ópera:

-Os meus admiradores não me dão sossego. É um verdadeiro exército a me perseguir!

Sophie Arnould aconselhou-a:

-Ora, é muito fácil você derrotar esse exército. Basta abrir a boca e falar.

Inúmeras pessoas são como essa atriz, pois a burrice as leva a defecar asneiras em jorro contínuo, a bostejar pela boca, e a feiúra das suas pobrezas de inteligência forma um estarrecedor contraste com a beleza dos seus rostos.

Devemos aceitar a burrice e até gostar dos burros, dar valor a eles. Como poderíamos saber o que é a inteligência, se a burrice não existisse? Nunca se deve revoltar contra ela, nunca! Estava certo o poeta e dramaturgo alemão Johann Christoph Friedrich Schiller (1759-1805), por ter colocado a seguinte frase no ato III da sua peça Die Jungfrau von Orleans (“A donzela de Orleans”):

“Os próprios deuses lutam em vão com a burrice.”

(“Mit der Dummheit kämpfen Götter selbst vergebens”).

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